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Secretaria Municipal de Meio Ambiente e
Desenvolvimento Sustentável

Monumento Arqueológico do Morro da Queimada



O Monumento Natural Municipal Arqueológico do Morro da Queimada é uma Unidade de Conservação de Proteção Integral criada em 2012 e situada na Serra de Ouro Preto. Seu objetivo principal é preservar o sítio histórico, suas ruínas e vestígios, proporcionando estudos sobre o modo de vida e ocupação da população no início do século XVIII. Além disso, busca proteger integralmente os recursos naturais para fins educacionais, científicos, recreativos e turísticos.O Morro da Queimada abriga um valioso sítio arqueológico, testemunhando as primeiras tipologias arquitetônicas da cidade e registros da exploração do ouro no Brasil Colônia.

O local possui ruínas de edificações da época, abrigos escavados nas rochas, galerias, minas de ouro, sarilhos e mundéus utilizados para lavagem do ouro. Também apresenta uma beleza natural única, oferecendo uma vista privilegiada do centro histórico de Ouro Preto e do Pico Itacolomi, que desempenhou papel fundamental na orientação dos primeiros bandeirantes e ainda é um símbolo icônico da cidade.

O Parque ainda não foi implementado como tal, hoje é usado pelos visitantes para a prática de trilhas e é um importante local à disposição para atividades de educação ambiental da Universidade Federal de Ouro Preto e das Escolas da região.


História

O local onde se situa o Monumento Arqueológico do Morro da Queimada em Ouro Preto já foi chamado de Morro do Paschoal e Arraial do Ouro Podre, sendo um dos mais antigos assentamentos da cidade histórica. Foi destruído em 1720 em consequência da chamada Revolta de Felipe dos Santos, um movimento contra as altas taxas impostas pela Coroa portuguesa sobre a população e o estabelecimento de casas reais de cunhagem na capitania de São Paulo e Minas de Ouro.

A revolta teve seu estopim na noite de 28 de junho de 1720. Mais de dois mil rebeldes marcharam até Vila do Carmo, hoje cidade de Mariana, com o objetivo de pressionar o governador a confrontar as medidas adotadas pela Coroa. O movimento era liderado por Pascoal da Silva Guimarães, Sebastião da Veiga Cabral, Dr. Manuel Mosqueira da Rosa, Frei Francisco do Monte Alverne e Felipe dos Santos que foi o líder mais popular de acordo com o historiador Diogo de Vasconcelos. No dia 16 de julho o então governador Conde de Assumar chegou à Vila Rica chefiando mil e quinhentos homens que destruíram o assentamento por meio de um grande incêndio. Após o ocorrido, o local ficou conhecido como Morro da Queimada e os moradores foram transferidos para arraiais vizinhos. O líder Felipe dos Santos foi capturado, condenado a forca e esquartejado por cordas amarradas em cavalos. Os outros líderes do movimento foram transferidos para o Rio de Janeiro e depois exilados para Lisboa. Atualmente, o Morro da Queimada é um importante sítio arqueológico, uma recordação concreta das primeiras tipologias urbanísticas de Minas Gerais, além de uma evidência da corrida do ouro no começo do século XVIII.


O Morro da Queimada contemporâneo:

Com o passar do tempo, devido à falta de proteção e reconhecimento do lugar como sítio arqueológico, ocorreram ocupações pela população que começaram a edificar utilizando as antigas estruturas de pedra remanescentes. Em abril de 2003 uma missão técnica da UNESCO, em visita ao local, identificou a necessidade de preservação desse sítio arqueológico para o resgate da herança cultural de Ouro Preto. O IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, então estabeleceu grupos de trabalhos interdisciplinares para a preparação de um projeto piloto de um parque arqueológico nessa área. O projeto foi feito em parceria com a UFOP - Universidade Federal de Ouro Preto, a Prefeitura Municipal de Ouro Preto e o Museu de Arte Sacra do Carmo. Além disso, o projeto recebeu também suporte da UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais, IEPHA - Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais, IEF - Instituto Estadual de Florestas, Câmara Municipal de Ouro Preto, Fundação Gorceix, Paróquia de Nossa Senhora do Pilar, Paróquia de Santa Efigênia, Sociedade Soto Zen do Brasil.


  


  

Foram recebidas também contribuições de algumas ONGs como a APAOP - Associação de Proteção Ambiental de Ouro Preto e FAMOP - Federação das Associações de Moradores de Ouro Preto. Entre 2006 e 2008, foram desenvolvidos alguns serviços como a criação do programa do parque, o delineamento da área, demolição de construções recentes, a realocação e indenização das famílias residentes, criação de um ecomuseu. Foi feito um trabalho de educação patrimonial e cultural com a população em torno do parque para facilitar o processo de proteção da área.

Atualmente o Monumento Arqueológico do Morro da Queimada é considerado um Ecomuseu contendo diversas ruínas da época da mineração do ouro em Minas Gerais. Um dos pontos de mais destaque é o chamado moinho de pedras avistado no ponto mais alto do morro. A edificação constituída de rochas empilhadas tem formato cilíndrico e aparentava possuir dois pavimentos ligados por uma estrutura que parece ter sido uma escada. Nas paredes encontram-se orifícios que aparentam ser o suporte de madeiras que sustentavam o segundo pavimento. Do ponto onde encontra-se a estrutura é possível observar uma esplêndida paisagem da Serra do Espinhaço que faz valer ainda mais a pena a experiência de se conhecer a cidade de Ouro Preto


  


No Romanceiro da Inconfidência, a poeta Cecília Meirelles conta a história do Morro da Queimada:


ROMANCE V OU DA DESTRUIÇÃO DE OURO PODRE

Dorme, meu menino, dorme,
que o mundo vai se acabar.
Vieram cavalos de fogo:
são do Conde de Assumar.
Pelo Arraial e Ouro Podre,
começa o incêndio a lavrar.
O Conde jurou no Carmo
não fazer mal a ninguém.
( Vede agora pelo morro
que palavra o Conde tem !
Casas, muros, gente aflita
no fogo ralando vêm ! )
D. Pedro, de uma varanda,
viu desfazer-se o arraial.
Grande vilania, Conde,
comestes para teu mal.
Mas o que agüenta as coroas
é sempre a espada brutal.
Riqueza grande da terra,
quantos por ti morrerão !
(Vede as sombras dos soldados
entre pólvora e alcatrão !
Valha-nos Santa Ifigênia !
- E isto é ser povo cristão ! )
Dorme, meu menino, dorme...
Dorme e não queiras sonhar.
Morreu Felipe dos Santos
e, por castigo exemplar,
Depois de morto na forca,
Mandaram-no esquartejar !
Cavalos a que o prenderam,
estremeciam de dó,
Por arrastarem seu corpo
Ensangüentado, no pó.
Há multidões para os vivos:
porém quem morre vai só.
Dentro do tempo há mais tempo,
e, na roca da ambição,
Vais-se preparando a teia
dos castigos que virão:
Há mais forcas, mais suplícios
3 para os netos da tradição.
Embaixo e em cima da terra,
o ouro um dia vai secar.
Toda vez que um justo grita,
um carrasco o vem calar.
Quem não presta fica vivo;
quem é bom, mandam matar.
Dorme, meu menino, dorme...
Fogo vai, fumaça vem...
Um vento de cinzas negras
levou tudo para além...
Dizem que o Conde se ria !
Mas, quem ri, chora também.
Quando um dia fores grande,
e passares por ali, Dirás:
“ Morro da Queimada,
como foste, nunca vi;
Mas, só de te ver agora,
ponho-me a chorar por ti:
Por tuas casas caídas,
pelos teus negros quintais,
Pelos corações queimados
em labaredas fatais,
- Por essa cobiça de ouro
que ardeu nas Minas Gerais.”
Foi numa noite medonha,
numa noite sem perdão.
Dissera o Conde: “Estais livres.”
E deu ordem de prisão.
Quem vos deu poder tamanho,
Senhor Conde de Assumar ?
“Jurisdição para tanto
não tinha, Senhor, bem sei...”
(Vede os pequenos tiranos
que mandam mais do que o Rei !
Onde a fonte do ouro corre,
apodrece a flor da Lei !)
Dorme, meu menino, dorme,
que Deus te ensine a lição
dos que sofrem neste mundo
violência e perseguição.
Morreu Felipe dos Santos:
Outros, porém, nascerão.
Não há Conde, não há forca,
não há coroa real
Mais seguros que estas casas,
que estas pedras do arraial,
deste Arraial do Ouro Podre
que foi de Mestre Pascoal.
Isso, Dom Pedro de Almeida,
é o que faz qualquer vilão.
Dorme, meu menino, dorme...
Que fumo subiu pelo ar !
As ruas se misturaram,
tudo perdeu lugar.



Referências:

Discurso histórico e político sobre a sublevação que nas minas houve no ano de 1720. Estudo crítico, estabelecimento do texto e notas: Laura de Mello e Souza. 1994: Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, Centro de Estudos Históricos e Culturais.

Almeida Figueiredo L. R; Campos M. V. (Coord.). 1999: Códice Costa Matoso. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, (Coleção Mineiriana).

Bahia Lopes M. (coord.); Sales Oliveira L. A.; Teodoro Lima K., 2008: Relatório do Grupo de Pesquisa Histórica. Ouro Preto.

Barker, P. 1981: Tecniche dello scavo archeológico. Milano: Longanesi & C.

Bediaga, B. (org.). 1999: Diário do Imperador D. Pedro II, viagem a Minas Gerais Vol. 24, – primeira parte, 26/03 a 19/04 de 1881. Petrópolis: Museu Imperial.

Carvalho, Teófilo Feu de, N/D: Ementário da história mineira – Filipe dos Santos Freire na sedição de Vila Rica em 1720. Belo Horizonte: Edições Históricas.

Meirelles, C., 1989: Romanceiro da Inconfidência. Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira.

Mello, S., 1985: Barroco Mineiro. São Paulo: Editora Brasiliense. Belo Horizonte: Editora Rona, 1979.

De Marco Meniconi, R.O. (coord.) Ashton R.; Pedrosa M., 2008: Relatório do Grupo de Intervenções Arquitetônicas - projeto de implantação do Parque Arqueológico do Morro da Queimada. Ouro Preto.

Oliveira, B. T; Bahia Lopes, M., 2005: Projeto Pronac – MINC.

Oliveira, B. T, 2008: The Morro da Queimada Archaeological Park, Ouro Preto, MG – Brazil, pp. 283-287. Structural Analysis of Historic Construction. London: D' Ayala & Fodde Taylor&Francis Group.

Pitta, Sebastião da Rocha, 1976: Livro décimo e último. In: História da América Portuguesa. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia Ltda; São Paulo: EDUSP.

Varine, H., 1987: Tempo Social. Rio de Janeiro, Eça Editora.

Vasconcelos, D. de, 1974: História Antiga de Minas Gerais. Vol. II. Belo Horizonte: Editora Itatiaia.

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Vasconcellos, S. de, 1979: Arquitetura no Brasil: sistemas construtivos. Belo Horizonte: Editora Rona.

Wagner, R.; Bandeira, J., 2000: Viagem ao Brasil nas aquarelas de Thomas Ender. Vol. 3. Petrópolis: Kapa Editorial e Petrobrás.